segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Altos e baixos

Passamos uma semana incrível na casa de praia dos meus pais. Laura e Nicolas foram SUPER bajulados, paparicados, mimados, chamegados e mais uma dúzia de ados.

Laura dormiu na cama dos meus pais quase a semana inteira, nem quis saber das mães. Brincou na piscina, na praia, se esgotou todos os dias. Nicolas ganhou tanto, mas TANTO colo que não sabia mais o que era viver sem isso na vida.

Foi uma delícia para todos nós, mas a volta pra casa não foi nenhum mar de rosas. Eu e Camila andamos estressadas, cansadas com a rotina puxada que nos pegou nesse fim de ano. Laura anda numa fase terrível, voltou a fazer birra para comer, contesta todas as regras da casa, responde de nariz em pé, se recusa a fazer as coisas mais simples. Nicolas, que estava bem adaptadinho à nossa rotina, na volta das férias apagou tudo. Passou dias berrando por não aceitar ficar no carrinho, na cadeira, no berço, no chão, no sofá... Ele, que acordava 1 vez por madrugada voltou a acordar de 2 em 2 horas aos gritos.

So-cor-ro.

Um exemplo do que anda rolando por aqui todos os dias:

Hoje colocamos as crianças no chão com várias almofadinhas e brinquedos para se divertirem juntos por um tempo. Lá pelas tantas, lasquei Laura tirando um brinquedo do Nicolas, ignorei. Mais tarde, tirou outro e outro e outro. No último brinquedo, Nicolas sem nada para se distrair começou a resmungar. Eu vejo Laura nem aí brincando com tudo sozinha alheia aos resmungos do irmão. Minha intenção era não intervir, mas achei que era hora de me meter.

Cheguei e questionei a interessante divisão de brinquedos que ela fez. Ela, pressentindo que a coisa não tava boa pro lado dela, tentou enrolar, se fazer de desentendida. Eu mandei largar tudo e sentar lá no cantinho pra pensar um pouco, sem dúvida na volta ela saberia o que responder. Depois de uns instantes, Laura boazinha diz entender que precisa dividir as coisinhas, oferecer um brinquedinho para o irmão e assim todos ficam bem.

Passa mais uns instantes e lá está ela agindo da mesma forma: arrancando tudo de perto do Nicolas para brincar cantando alto como se todos estivessem se divertindo. Mais uma vez mamãe metida tenta explicar como se brinca na vida. Não satisfeita, ela levanta e começa a jogar os brinquedos no Nicolas. Cah manda Laura sair de perto. Nicolas chora. Laura chora.

Mais um tempinho, converso de novo com ela, tento uma abordagem legal, mais lúdica, tento não falar do outro como um irmão mas como qualquer criança que ela goste e costume brincar. Ela parece entender e aceitar tudo numa boa, reconhece que não foi legal jogar as coisas no irmão, que poderia ter machucado.

Não passa nem 3 minutos sem que ela torne a fazer exatamente a mesma coisa. Minha paciência já no zero, tiro ela de lá e acabo com a brincadeira.

E assim está sendo day by day. Se ela está com ciume do irmão? Se isso é perfeitamente normal na idade dela? Se ela está tentando demarcar território? Sim para tudo, mas na maternidade aprendemos que o reconhecimento das fases serve para compreender e não para resolver. Laura perdeu a inocência quando o irmão chegou, isso era necessário então que venha, vamos resolver e a fase vai passar. Mas que isso tudo cansa, ahhhhhh como cansa.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Quando o dia chega ao fim

Uma noite dessas, minha mãe liga para saber dos netos. Eu respondo com voz de alívio:
- Ufa... Já estão dormindo finalmente!
Levo imediatamente um puxão de orelha. "Que é isso filha? Nunca deseje não estar com seus filhos, que tristeza você sempre quis tanto e agora comemora quando estão dormindo....blablabla".

Demagogias à parte, a vovó ali não entendeu bem o que eu quis dizer. Sim, quando chega a noite e os dois estão na cama sinto um alívio. Enfim respiro devagar e consigo relaxar, tomar um café, ver alguma amenidade na TV.

Quando temos filhos, a vida toda muda, o grau de importância de tudo aumenta. Nós passamos o dia cuidando, alimentando, tomando decisões, levando pra escola, criando atividades, dando banho, chamego, colo, bronca, castigo... Longe de falar mal da maternidade, mas quem é mãe sabe que não é mole não!

A vida com dois filhos é bem diferente, sobretudo pelas necessidades de um bebê. Eu não fazia ideia do trabalho que dava ter uma criança que não anda. Uma simples ida ao supermercado vira uma odisseia. A bolsinha de "viagem" triplicou de tamanho e não dá pra sair de casa sem umas duas mamadeiras reserva, mais suco ou chá, fruta e papinha, fraldas, lencinho e panos, muitos panos.

Por quê? Porque bebê baba! E vomita! De quebra, você precisa levar mudas extras de roupa para você também. E depois decide, dependendo do tipo da saída, se vai de carrinho de passeio ou de descanso, ou se vai encarar um colo 100% do tempo (só mesmo bêbada para ter essa ideia). Tem que planejar como vai ser essa saída, pois ele dorme lá pelas tantas, e grita lá pelas outras tantas. Tem que sair sem brincos para não ter a orelha arrancada, cabelos presos para não ficar careca, roupa escura para não exibir rodelas de baba amarelada. E um sapato baixinho bemmmm confortável para qualquer distância.

E antes que alguém pense, assim como a minha mãe, que tudo isso é uma reclamação, digo que não, não é. Apenas aceitamos que a adaptação não é fácil, que não é automática, que exige muito, mas muito esforço de todas as partes, e que tudo isso compensa muito no fim do dia quando chega 20h e os dois estão dormindo profundo no aconchego e segurança de suas caminhas.

É um alívio saber que sobrevivemos a mais um dia. Que conseguimos ser um pouquinho melhores do que ontem. Que mais um dia se passou e nossos filhos são reais. Que diante de toda a sorte de acidentes, sequestros, assaltos e demais atrocidades que destroem famílias diariamente, a nossa foi poupada e meus amores estão a salvo.

Sim. Nós sentimos um alívio enorme quando eles estão dormindo :)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Dois filhos...

A primeira noite dos dois em casa foi mágica. Diferentemente da sensação de estranheza que senti quando Laura finalmente ocupou seu quartinho inacabado, agora estávamos eu e Cah paradas na porta do quarto onde os dois dormiam profundamente... E o sorriso bobo não saía do rosto.

Nicolas cumpriu o papel que lhe foi cabido pela equipe técnica e dormiu tranquilamente, acordando apenas uma vez para mamar. Mas a primeira madrugada dos dois em casa não foi protagonizada por ele e sim pela Laura, que nos surpreendeu com uma febre de quase 40ºC. Virose? Não, é apenas sua insegurança e medo despontando pelo corpo, coisa que acontece cada vez que algo muda drasticamente na sua vida. O que será que passa por aquela cabecinha? O que ela pensa, o que sente tão profundo que não conseguimos entender completamente?

Dó demais de ver aquela bonequinha queimando de febre por conta do irmão, pois para as aparências ela estava aguentando bravamente!

Portanto, a manhã de 31 de outubro foi dividida entre as descobertas do novo e as preocupações do antigo... Laura ganhou um bom chá de chamegos e passou o dia de cama se fortalecendo. Os sinais de que seria passageiro foram além do termômetro: todo o momento em que ela se sentia melhor, levantava e ia ter com o Nick, conversar com ele, dar um beijinho, enfim curtir o maninho com toda a delicadeza de sempre.

Eu acho que foi só aí que ela entendeu que esse tal de "irmãozinho" não era uma visita, um filho de uma amiga, um amiguinho para brincar temporariamente. Não tenho ideia do que isso significa para ela agora, mas sei que estamos dando o primeiro passo para um conceito de família que nenhum de nós quatro imaginamos. Afinal de contas, ele não é apenas nosso segundo filho, como também o irmão da Laura. O irmãozinho caçula!

A relação de irmãos é algo que me apaixona pela cumplicidade, pela proximidade orgânica, aquela amizade tão sincera que chega a ser indesejada muitas vezes, mas que depois de crescidos, só deixa sobrar o amor e as lembranças divertidas da infância.

Da minha parte, tudo o que eu aprendi com a Laura, com nossa relação e com a construção desse vínculo tão forte agora parece totalmente vencido, algo que absorvi e aprendi a vivenciar com tranquilidade no dia a dia. Então olho para o Nicolas e vejo o quanto ainda tenho a aprender e a viver... E olho para os dois juntos e sonho acordada - temos mesmo dois filhos?


sábado, 9 de novembro de 2013

Aos 30

"Todos vamos morrer. Porém, não podemos decidir como e quando, mas podemos escolher como iremos viver até lá. Olhe ao seu redor e veja se é essa vida que você quer viver".

Eu sempre me achei durona e achava que era papo furado essa coisa de repensar a vida quando completamos uma etapa marcante - e que mulher vai dizer que fazer trinta anos não é marcante? -, mas eu estava errada. 

Olho para trás e vejo muitas coisas. Vejo erros, acertos e coisas que ainda não consegui definir o que são. Magoei pessoas, aprendi com algumas, fui magoada por algumas também. Me diverti muito, fiz tudo o que queria fazer (tirando me mudar pro Canadá). Gostaria de não ter feito certas escolhas, sentir o que senti, magoar quem eu magoei. Eu não me envergonho de dizer que tenho arrependimentos. Queria ter pensado mais antes de agir, ter persistido mais em algumas coisas, aberto mão de outras mais cedo.

Mas olhando para onde estou hoje, posso dizer: é exatamente onde e cmo eu gostaria de estar (ok, ok, poderia ter uma variação para mais na minha conta bancária). Ver meus filhos brincando juntos, nossa casa com cada detalhe escolhido por nós, nossos amigos acima de qualquer erro ou julgamento, minha esposa... Ah esse é um capítulo à parte, ela me enlaçou, me agarrou e quando eu percebi estava casada... hahaha, mas essa foi a melhor escolha, que com certeza faz parte dos acertos. Ela me ajuda a caminhar, a crescer, acredita em mim e eu a amo muito.

Então vendo tudo isso, pensando aqui no alto dos meus 30 anos muito bem vividos, só tenho a agradecer ao Universo por ter conspirado a meu favor, por ter me permitido crescer, amadurecer e viver para sentir toda essa felicidade.


                                                                                        Abraços Cah

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O primeiro dia do segundinho

Já entendemos que não existe meio de estar preparada para receber um filho - seja como for, a chegada sempre será marcada de muito nervosismo, ansiedade, distração, dor de barriga e conta bancária zerada.

Depois de passar o maior sufoco tentando comprar as passagens e suprir as primeiras necessidades básicas do nosso futuro pimpolho, fomos agraciadas com a boa vontade dos amigos. Ganhamos de tudo: berço, bebê conforto, carrinho de passeio, roupas, mamadeira, chupetas, sapatinhos, meias, babadores, etc. Foi incrível! Em poucos dias tínhamos um quarto montado e passagens na mão.

Mas se essa semana de preparativos teve a duração de um dia, a semana seguinte foi de um mês. Na terça-feira de manhã embarcamos no avião a BH com uma Laura feliz da vida:

- Mãe, vamos lá na casinha?
- Que casinha filha?
- A casinha do céu onde tá o meu irmãozinho!

Foi nesse clima que chegamos na terrinha dos nossos filhos. Lá, nos esperava nossa anfitriã master, mais amiga impossível que trocou horário do trabalho só para estar conosco (Loreeee te amamos!). Pegamos um ônibus até o centro e partimos para a VIJ encontrar a técnica. Conhecemos a figura e tivemos acesso a todo o processo dele, cada detalhezinho da sua curtíssima vida.

Ela sentiu nossa convicção absurda para a adoção e resolveu deixar toda a papelada pronta previamente, pois assim que fôssemos ao abrigo no dia seguinte já seríamos liberadas para casa. Isso me deu uma sensação louca de paz, a dor de barriga cedeu e eu passei a imaginar como seria o dia seguinte.

Eu e Camila tínhamos um combinado: com medo de ele não querer saber de mim (gata escaldada rs), combinamos que eu entraria no abrigo com Laura no colo e então Cah o pegaria pela primeira vez. Depois, sem tantos olhares, eu me aproximaria dele de fato.

No dia seguinte na hora combinada chegamos ao abrigo. Fomos super bem recebidas e nos impressionamos com a qualidade da instituição - infinitamente superior à do abrigo onde Laura viveu. Sentamos numa salinha e de repente veio a cuidadora com um bebê no colo. Meu coração saltou, prendi a respiração. Seria ele? Não lembrava mais da foto, de nada. Camila ria nervosa ao meu lado. A cuidadora vira o baby para nós e assim que ele nos vê abre o maior sorriso.

Eu desisti na hora do combinado, levantei e peguei aquela bolinha gordinha no colo, desatei a chorar enquanto a Cah me olhava com os olhos vermelhos, sem acreditar também. Laura ficou preocupada comigo, pensou que eu estivesse sofrendo. Trocamos os filhos de colo e eu procurei explicar à ela que mamãe era assim mesmo, uma baita chorona, e que quando a vi pela primeira vez foi igualzinho (tanto que é com lágrimas que relembro esse momento enquanto relato para vocês).

As técnicas saíram da sala e nos deixaram a sós - nós quatro - num espaço que não tinha mais lugar tamanha era nossa felicidade.

O resto do dia foi andando pela cidade com bolsas de viagem, sacola de bebê e crianças tentando encontrar um jeito de fazer o tempo voar para logo estar em casa. O vôo de volta foi no mesmo dia e não poderia ser mais tranquilo: bebê dormindo no colo a viagem inteira. Nesse momento, o ciume da Laura dá sinal, ela fica sem sossego nos chamando a cada segundo para ver a janela, o dedo que machucou, o botão da poltrona, a revista, o teto, a asa do avião, etc. Cansativo, mas super compreensível.

Chegamos em casa por volta das 21h daquele dia, menos de 24h depois de tê-lo nos braços pela primeira vez. Ele dormiu no berço sem problemas, acordando apenas para mamar uma vez. Fomos dormir nesse primeiro dia exaustas e incrédulas.

O quarto da Laura agora era o quarto das crianças!

domingo, 27 de outubro de 2013

E a corrida recomeça!

Como contei no último post, assim que enviamos o requerimento para a juíza da VIJ, recebemos um retorno da AS local informando que estava tudo certo, que agora era só aguardar. Resolvemos que em breve começaríamos os preparativos para o segundo filho. O primeiro passo era avisar a família de que o público aqui em casa iria aumentar.

Com a minha mãe prestes a completar 60 anos e a Cah, em data bem próxima, chegando aos 30, decidimos fazer uma comemoração especial. Por isso, há meses reservamos uma pousadinha no litoral catarinense para um findi logo no início de novembro. Pensamos em aproveitar o momento para anunciar que estamos grávidas de coração novamente. Perfeito!

Mas o tempo não segue regra alguma. No dia 21 de outubro estou em casa lavando a louça do almoço, ao mesmo tempo em que aguardo Laura terminar seu prato e me arrumo para sair quando toca o telefone. É a esposa:
- Amor, está sentada?
Coração apertou - lá vem desgraça - pensei.
- Sim, fala o que houve???
- Nosso filho chegou.


...


Não sei dizer o que falamos na sequência. Minha cabeça girava. Como assim chegou? Acabamos de voltar ao CNA! Só pode ser loucura.

E é. A mais doce e incrível loucura que já vivemos.

Quando pensei que nada mais poderia superar a emoção de saber que em breve seria mãe, vem o destino e me mostra que ser mãe pela segunda vez pode ser ainda mais incrível. Ao esperar pela Laura, eu não sabia o que sentir, apenas ansiava e sonhava, imaginava e criava expectativas. Agora eu sei o que é ser mãe, sei o que é amar absurdamente um ser que um dia me foi desconhecido. E o sentimento que nutri pelo segundo filho foi instantâneo, alucinante, avassalador.

Hoje, dia 27 de outubro, estamos há dois dias de conhecer nosso segundo pote de ouro. O quarto já está pronto, o cronograma também. E nossos corações? Estão abertos, imensos e inquietos. Inesperadamente prontos!

sábado, 26 de outubro de 2013

Outros tesouros no fim do arco-íris

Meu sonho sempre foi ter a casa cheia, 3 ou 4 filhos mais ou menos. Camila era mais "normalzinha" rs, sonhava com dois filhos e ponto.

Mas quando Laura chegou, ela nos preencheu de tal maneira que ficamos em cima do muro, quisemos desistir de ter mais filhos. Afinal, a vida muda MUITO com a maternidade! Coisas que nunca imaginamos precisar, de repente viram prioridade nos nossos dias e o cansaço toma conta - até mesmo quando a filhotinha é praticamente um anjo na Terra.

Eis que o tempo passou. Hoje temos uma Laura de 3 anos e 4 meses completamente diferente de quando chegou. Ela já reconhece as letras do alfabeto, já consegue pular com mais empenho e aprende musiquinhas novas todos os dias - quando não aprende, inventa. Aprendeu a reconhecer as cores primárias e algumas secundárias, conta até 10, adora a escola, conta mil histórias e solta pérolas diárias curiosíssimas. Adora as pessoas do seu meio, faz questão de citar todos o tempo inteiro, deixou de ter aquele medo absurdo para aflorar uma personalidade tímida sim, mas extremamente simpática. Laura é tanto amor, tanta realização, tanta felicidade, que quando percebemos estávamos querendo ainda mais. Passado mais de um ano da adoção, hoje completamente adaptadas e felizes, decidimos que era hora de abrir novamente o coração para mais um potinho de ouro.

A certeza da decisão foi garantida dada a emoção com que entramos em contato com a VIJ buscando informações sobre o nosso retorno ao CNA. Nosso pensamento foi o seguinte: vamos começar o processo agora para quem sabe conseguirmos adotar no ano que vem... O perfil foi mantido praticamente igual, apenas alterando a faixa etária: decidimos que o segundo filho seria um bebê.

Laura, ciente de nossa decisão, começa a conjecturar sobre esse possível irmão que um dia chegará. Tudo para ela é festa, segue relato de uma de nossas conversas:

- Filha, o que é família?
- Família? É mamãe, outra mamãe e Laura!
- Ah é?
- Sim! E também o Gandalf, a Lilith, a Lilla... (seguiu citando cada um dos nossos 6 animais de estimação)
- É verdade filha, que família grande né? E quando seu irmão chegar, ele também vai ser família?
- Hummm... Não. Ele vai ser só MEU família!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O processo da adoção - passo a passo

Faz tempo que estou devendo esse post e achei importante a ponto de reunir forças e me organizar para conseguir parar o mundo e escrevê-lo, pois sei que do outro lado há futuras mamães e papais ansiosos e cheios de dúvida sobre como funciona realmente o processo de adoção do ponto de vista, digamos, burocrático.

Ao contrário do que se imagina, não é sempre igual. Cada processo irá responder a fatores variados - que não deveriam ser tão variados assim - tais como: situação da criança adotada, idade, local da VIJ (Vara da Infância e Juventude), humor do juiz, competência das Assistentes Sociais, etc. No nosso caso funcionou da seguinte forma:

1. O primeiro contato: fomos convidadas a conhecer a Laura por intermédio de um grupo virtual de apoio à adoção. Pela ordem natural das coisas não seria necessário esse trabalho, mas foi fundamental no nosso caso, pois sem isso não nos teriam encontrado. Estávamos no CNA? Sim, estávamos. Mas o sistema é bastante falho. O convite aconteceu por telefone e e-mail simultaneamente e tão logo respondemos a loucura começou.

Depois de sermos convidadas, enviamos nosso processo de habilitação digitalizado para o e-mail da AS. No dia seguinte ela nos ligou para conversarmos sobre a data da viagem. Somos livres para ir quando quisermos, mas subentende-se que se demorarmos demais para ir, é por que não temos tanto interesse assim. Ponto negativo. Portanto aceitamos a data agendada pela AS e em menos de uma semana estávamos lá. O processo é todo eletrônico, então não tivemos que levar nada, apenas a cara, a coragem e o RG.

A primeira parada foi na VIJ logo de manhã. Lá nos foi passado tudo o que precisávamos saber sobre a Laura e, menos de duas horas depois estávamos a caminho do abrigo.

2. O estágio de convivência: para adotar crianças de 2 anos não é necessário mais do que 3 dias de estágio de convivência. Mas o caso da Laura exigiu um pouco mais do que isso, dado seu histórico e ausência absoluta de contato familiar durante toda a vida. No total ficamos uma semana em avaliação da VIJ de Belo Horizonte.

3. Documentação: para poder tirar a criança do abrigo é necessário entregar uma carta de autorização feita pelo juiz da VIJ. Recebemos esse documento assim que chegamos e o entregamos para a diretoria do abrigo. Também recebemos um documento para permanecer com a Laura na cidade durante aquela semana, o que serviria para nos hospedar em um hotel com ela, por exemplo.

Ao concluir o estágio de convivência, pensávamos que falaríamos com o juiz, mas não foi assim. A própria AS elaborou o termo de guarda provisório para fins de adoção e, enquanto aguardávamos na VIJ, pegou a assinatura do juiz e nos entregou. Esse documento serviria para sairmos da cidade com a Laura e nos delegava os direitos de tutoras da criança. Foi com ele que demos entrada na licença maternidade, nos planos de saúde, na escolinha, etc.

Nesse dia também recebemos cópia do processo de Destituição do Poder Familiar da Laura e também do processo dela contendo todas as informações sobre a fofuxa desde o primeiro dia de vida até o momento. Recebemos, ainda, o histórico médico dela com as orientações para dar seguimento ao tratamento do HIV+ pelo SUS no Paraná.

Antes de sair de BH, portanto, passamos no Hospital onde ela era atendida, pegamos a medicação necessária para o primeiro mês e saímos com mais uma receita que daria para os próximos dois meses.

4. A adoção definitiva: todos os profissionais envolvidos na causa alegam que é fundamental ter advogado para adotar em qualquer VIJ do Brasil. Mas nós não precisamos, foi tudo muito simples e rápido. Com Laura já destituída, não tivemos que aguardar muito. Em casos de crianças não destituídas é necessário aguardar que esse processo se conclua antes de adotá-la em definitivo - já vi casos de espera de anos.

Entramos com pedido de adoção logo no primeiro mês e nos pediram uma papelada chatíssima muito parecida com a do processo de habilitação (comprovantes de renda, de endereço, cópias autenticadas de documentação, negativas, etc).

O mais demorado no nosso caso foi aguardar a visita da AS à nossa casa para o laudo técnico sobre a adaptação da Laura. Quando finalmente conseguimos esse laudo, tudo seguiu em menos de duas semanas. A documentação seguiu para a juíza, que emitiu a sentença favorável à adoção solicitando que tomássemos ciência pessoalmente no Cartório da VIJ.

5. A Certidão: fomos no dia seguinte e recebemos um documento assinado pela juíza exigindo a alteração na Certidão de Nascimento. Peguei aquele papel e voei para o cartório de registros, faltava poucos dias para o Dia das Mães. No cartório emitiram nova certidão informando os novos dados de filiação e pronto, Laura virou Ribeiro de Souza Fiorio.

6. O tempo: fomos habilitadas em três meses. Dois meses depois de entrar no CNA estávamos em BH conhecendo a Laura. Do dia em que a conhecemos até o momento de pegar a certidão na mão se passaram 10 meses. Sei que não acontece assim com muita gente. Em geral, o processo de habilitação demora uns 6 ou 7 meses para sair.

Depois disso, o tempo de espera varia muito de acordo com o perfil da criança desejada. Grupos de irmãos, meninos, crianças negras, pardas ou indígenas, idade superior a 4 anos e com doenças crônicas ou deficiências costumam ser encaminhados rapidamente. Meninas sem irmãos, brancas, sem doenças, já destituídas e com idade inferior a 3 anos não são maioria nos abrigos brasileiros, portanto são perfis que demoram um pouco mais a serem atendidos.

Espero que tenha esclarecido alguns pontos aqui, caso algo tenha ficado de fora podem perguntar!

=]

sábado, 10 de agosto de 2013

A difícil arte do caminhar

Uma das descobertas mais dolorosas que eu fiz quando comecei a me perceber adulta é de como é difícil ser feliz.

É difícil demais aprender a equilibrar nossas expectativas com a realidade. Assim como também é difícil aceitar que a realidade é o que é, não mais e nem menos. E que querer mais é irreal - e não um sonho. Querer o que a realidade nos dá não é falta de ambição e sim adquirir a consciência de que a vida tem sua forma, seus caminhos, sua razão de ser.

Eu não sou religiosa, sou ateísta. Vivo num mundo mergulhado em "graças a deus", "que deus te acompanhe", "durma com os anjos", "deus ilumine seu caminho"... É exaustivo quando se acredita calorosamente que isso tudo é fruto de subterfúgios cultivados há séculos, milênios por todos os povos e que eu, pobre de mim, jamais conseguirei combater. Então, cansada de correr contra o vento, decido aceitar tais palavras como uma ordem de carinho recebida pelos mais queridos amigos e familiares. Foi uma sábia decisão. Com ela, não luto mais contra isso, não gasto mais energia com o inevitável.

Isso é aceitar a realidade. Não aceitá-la seria o mesmo que viver frustrada, brigando com o mundo e com as convicções do outro que - peraí - não deixa de ser reflexo da minha própria convicção!

Mas voltando ao ponto. É difícil ser feliz porque a vida nos empurra no sentido contrário. Nada no mundo faria sentido se não tivéssemos nós mesmos que descobri-lo em nosso próprio caminhar. Então o esforço, a dor, o sofrimento, as dificuldades e as barreiras que a vida nos impõe não são injustiças, castigos divinos ou o chamado de satã - como queiram definir. São nada menos do que a vida acontecendo.

E é por ser que vivemos. Se apenas o ser é fundamental para a vida, talvez a dificuldade em encontrar a felicidade (ou reconhecê-la) esteja em nossa tentativa de deixar de ser. Em ter, fazer, sustentar... Qualquer coisa que sufoque o ser.

E o que a Laura tem a ver com tudo isso? Tem que ela é uma menina que acaba de completar 3 anos de vida e que já carrega uma maletinha de situações curiosas, interessantes e também difíceis. Se temos pena? Não, nenhuma. Laura nasceu e vive sua história, ela encontrará seus meios para enfrentar os desafios - desafios esses que não são maiores do que os que enfrentamos todos nós. A grande questão é: se nós mesmos, adultas e com certa experiência de vida, amparadas uma pela outra, enfrentamos avessamente tantos obstáculos da vida, como saberemos nós a melhor maneira de ensiná-la a fazer isso com sabedoria?

Creio que só seja possível alcançarmos juntas. Então, como tropeço na difícil arte do caminhar, desconfio que ainda vamos esbarrar na felicidade por aí.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Dia das mães com certidão em mãos!

Depois de saída a sentença, fiquei de olho no prazo do processo para retirada da certidão de nascimento da Laura. Como ela foi registrada inicialmente em Belo Horizonte, onde nasceu, foi necessário solicitar o cancelamento do documento por lá para então obtermos a autorização de registrá-la aqui, onde vivemos.

E esse dia finalmente chegou: às 15h30 do dia 06 de maio tomei posse da certidão de nascimento da Laura. Lá no topo, seu nome completo; logo abaixo, eu e Cah no campo Filiação. Depois, avós maternos de ambos os lados.

A sensação? Não sei dizer... Eu resolvi fazer a certidão sozinha em segredo para presentear a Cah no Dia das Mães, então não pude ligar para ela e desabar chorando. Tampouco quis pagar mico no cartório, que estava cheio de gente. Fiquei o tempo todo tentando fazer meu pensamento fugir desse que foi um dos acontecimentos mais importantes da minha vida. Engasguei diversas vezes e quando me entregaram o documento pronto, agradeci à moça como se ela tivesse me dado a Laura embrulhada pra presente. O resto do dia pouco trabalhei. E como era de se imaginar, não consegui segurar a surpresa até domingo, naquela noite mesmo entreguei o "presente" à Camila, que ficou tão besta quanto eu. E aí sim pudemos chorar nossa vitória.

Nossa família nasceu.

No Dia das Mães, cercadas de amigos e crianças, curtimos um presente ainda mais legal! Uma matéria publicada no canal iGay do portal IG estampando nossa felicidade assim, para quem quisesse ver.

http://igay.ig.com.br/2013-05-12/nosso-primeiro-dia-das-maes---camila-e-vivian-adoram-filha-laura.html

Pode ser melhor???

Aproveito aqui para deixar muitos beijos e abraços a todas as mamães (e futuras também, pois sonhar já é ser um pouquinho mãe) que nos acompanham por aqui =)

domingo, 28 de abril de 2013

A lenda do desfralde

Hoje, um domingo lindo nascido depois de um sábado exaustivo, seguido de uma semana loucamente cansativa, eu e esposa dormíamos serenamente quando fomos acordadas por um serzinho que sussurrava:
- Mãe, todô!

Laura acordou. Feliz da vida porque finalmente aprendeu a levantar da cama, abrir a porta e sair ao invés de ficar lá sentada como se não andasse, gritando MANHÊÊÊ como se não houvesse amanhã. Sim. Laura teve que ser estimulada a sair do quarto por conta própria, como também teve que ser estimulada a brincar, pular e fazer inúmeras atividades que tantas crianças fazem normalmente. E não estou contando isso para fazer brotar a compaixão no coração da humanidade - odeio compaixão. Falei por que isso talvez dê bases para que entendam como está sendo o processo de desfralde aqui em casa.

Pois bem, antes de ter filhos eu tinha pânico do desfralde. Me apavorava com a ideia de ter uma criança se mijando toda pela casa, me via limpando xixi por todo o canto, tudo fedendo, etc. Mas lá por outubro ou novembro, época em que a Laura entrou na escolinha, deu a louca e tirei a tal da fralda. Então, para quem ainda não se aventurou, aqui vai nosso beabá:

Primeira etapa

Começamos testando a reação dela só em casa e durante o dia. Foi um sucesso no primeiro dia, ela amou ficar sem fraldas e se empolgou total com a dancinha senta e levanta no penico. Inicialmente tive medo de deixá-la curtir o sofá da sala, já que a impermeabilização não funciona para o xixi (oi?). Ficava de minuto a minuto convidando: "vamos fazer xixi filha!" Pegava pela mão a criatura e levava para o penico lá no banheiro, ensinava a tirar a calça, blablabla.
No segundo dia ela concentrou seu ódio no penico. Assim que o viu abriu o maior berreiro, não quis saber de sentar no dito cujo e mandá-la fazer xixi parecia o mesmo que dizer: "filha, vá para a forca e morra". Mesmo assim não teve nenhum vazamento, mesmo contrariadíssima ela fez xixi no penico bem bonitinha.
Nos dias que se seguiram, como o mau humor aumentava, Camila resolveu colocar o penico na sala, assim ficaria mais perto de nós e talvez não se irritasse tanto. Deu super certo, ela fez as pazes com a privadinha e voltou à animação do primeiro dia. Nesse ponto, resolvemos avisar na escola que estávamos mantendo-a sem fralda durante o dia, que se possível dessem continuidade ao trabalho por lá.

Material usado: calcinhas, pano, desinfetante e paciência.
Recursos adicionais: convite para fazer xixi a cada 2 minutos e meio (não eram perguntas, eram CONVITES, creio que faz toda a diferença quando a criança está na fase do NÃO), dancinha do xixi e do cocô feliz, tchau para o xixi, repetição do ritual pós-penico: levanta do penico, limpa a perereca, coloca a calcinha, dá a descarga.
Resultado: nem contabilizei quantos xixis tivemos na calça, mas foram poucos, pouquíssimos, nem cheguei a me irritar.
Tirada de fralda primeira etapa: sucesso total.

Segunda etapa

Como a coisa toda tava uma maravilha, arriscamos tirar a fralda também durante os percursos de carro. Nosso maior medo aqui era que se rolasse uma escapada o trabalho seria triplo - santa paciência tirar a capa daquela cadeirinha para lavar -, sem contar que percorremos com ela longos trajetos cada vez que saímos de casa. Tudo isso fez com que levássemos algumas semanas para criar coragem.
Mas quando o dia chegou, chegou chegando. Tiramos e ela fez direitinho a parte dela. Dois momentos foram cruciais para percebermos de que ela estava mesmo preparada para viver sem fraldas:

1- Um dia eu retornando para casa com ela quando encaro um belo congestionamento. Lá pelas tantas, Laura fala a frase arrepiante "Mãe, té xixi". Olhei para ela disfarçando a tensão e falei: "agora não filha, mas quando a gente chegar em casa você pode fazer xixi ok? (por favor por favor por favor por favor)". Ela: "tá bom!" E cumpriu o combinado, chegamos em casa muitos minutos depois e a calcinha estava seca.

2- Pouco tempo depois de tirarmos a fralda nos trajetos, encaramos uma viagem longa para o RS. Foram 7 horas na ida e 10 horas na volta. Paramos duas vezes em cada etapa, Laura não pediu para parar nenhuma vez e fez xixi somente nos banheiros. Sei que não estava apertada, pois seguiu brincando e se divertindo - e até dormindo - numa boa o caminho todo.

Material usado: calcinhas.
Recursos adicionais: nenhum.
Resultado: Laura nunca fez xixi na cadeirinha, então o resultado não poderia ser melhor.
Tirada de fralda segunda etapa: sucesso total.

Terceira etapa

Quem pegou no sono com tanto tédio agora pode acordar que a ladainha começou rs Depois de meses usando fraldas apenas para dormir, eu e Camila fugindo sempre da conversa enfim decidimos encarar: já era hora de tirar a fralda noturna. Como sempre esquecíamos de comprar aquela capa para forrar o colchão, fomos adiando a data, o que não sei se foi bom. Afinal, Laura muitas vezes deu sinal de que era capaz de segurar o xixi durante a noite - várias manhãs vieram com fralda sequinha. Mas passava o tempo e o xixi voltava a surgir, nos desencorajando a começar a terceira e dolorosa etapa.
Mas como acontece sempre, um belo dia a gente se jogou na coisa: enfiamos um saco de lixo gigante na cama sob o lençol, reduzimos o líquido da noite e fizemos a lição de casa com a pimpolha. Ela já estava sendo adestrada para isso há um tempinho, mas o lance foi mais intenso no dead line. E assim começou:

1º dia: cama sequinha de manhã, criança e mamães felizes a cantar. Esse foi o assunto que reinou no café da manhã e a Laura não parava de falar sobre o fato, não duvido que tenha contado até para a professora.

2º dia: mais um dia de cama sequinha e eu já começava a respirar - então minha filha seria dessas crianças iluminadas?

3º dia: HA-HA. Acordei e lidei com uma criança tão enxarcada que deu a impressão de que ela fez xixi plantando bananeira na cama. Fiquei irritada e tal, expliquei que ela deveria ter levantado e feito xixi no penico, mas ok né? Acontece.

4º dia: mais xixi e mamãe aqui um pouquinho menos paciente explicando o que ela deveria fazer e quase esquecendo de imprimir na voz aquele tom positivo ideal para uma maternidade saudável.

5º dia: só não tinha mais xixi porque senão faltaria espaço para o cocô. Sim, uma criança que nunca havia feito cocô na calça, que sempre foi um reloginho, desregulou. E a mãe aqui desregulou mais ainda: dei bronca, perdi a paciência, tirei a roupa suja aos puxões e dei um banho com zero amor. Como parecia que ela não se importava, aquilo me frustrava ainda mais. Ridículo eu sei, mas eu sou assim: ridícula e irracional de manhã.

6º dia: cheguei no quarto e vi a cena: lençol e plástico no chão, criança deitada no colchão cheia de xixi... (calma que agora vem a parte difícil)... Cantando. Sim, ela estava cantando. Tarja preta para o meu momento surtado: fiz tudo o que não podia fazer, briguei, gritei, falei sem parar por vários minutos, fiquei de mau humor o resto da manhã, coloquei criança de castigo por ter tirado o plástico, etc. Um horror. Depois desse show matinal, liguei pra Camila que estava no trabalho e desandei a contar tudo e dizer que eu não ia me arrepender de coisa nenhuma, que aquela criança tava fazendo de propósito e que tudo se foda. Cinco minutos depois uma culpa me corroeu fundo e fui bater um papo com uma Laura triste. Falei coisas mais positivas, usei voz calma, olhei no olho, abracei, convidei para brincar... Enfim, o equilíbrio em pessoa.

Material usado: máquina de lavar, vários pijamas, calcinhas e lençóis, grandes doses de irritação.
Recursos adicionais: gritos, broncas e daí para pior. Cheguei a tirá-la da cama uma noite para fazer xixi, mas morri de pena porque ela dorme muito bem. O habitual era reduzir líquidos à noite, mandar fazer xixi antes de dormir e logo ao acordar.
Resultado: começou bem, mas graças à habilidade maternal aqui, o negócio desandou.
Tirada de fralda segunda etapa: fracasso total.

Depois de alguns dias com xixi diário na cama, eu disfarçando a raiva de ter que fazer a cama e lavar tudo todos os dias para não sobrecarregar nossa gostosinha que não tem culpa de ter uma mãe estressada, passamos a considerar outras opções. Em uma conversa com uma amiga que é psicóloga, mãe e super ponderada, contei a novela do desfralde noturno e perguntei se ela achava que seria problemático voltar às fraldas à essa altura da história. A decisão foi tomada depois de eu ouvir a pergunta: "O que você acha que será mais traumático: ela acordar todos os dias vendo você fingir que não se irrita ou voltar a usar fraldinha por um tempo e ter a mamãe feliz de volta?"

Né gente, eu sempre levando os tapas na cara. Fui pra casa decidida a voltar para as fraldas. À noite, na hora de dormir, conversei com ela. Mostrei a fralda e falei que eu a admirava por se esforçar em fazer xixi no penico, e que o xixi na cama não era um problema, que iríamos colocar a fralda de novo e mais tarde tentaríamos mais uma vez. Que isso significava que ela estava crescendo e aprendendo a ser uma criança maiorzinha e que a mamãe estava (cof cof) super feliz com isso. Aplausos.

1º dia de fralda: Laura acorda feliz da vida dizendo que não fez xixi na cama. Te falar? Psicologia infantil não é ciência, é praga rs

A partir desse dia, hoje ela completa 4 dias de retorno às fraldas e além de não fazer um pingo de xixi na cama, também aprendeu a sair da cama e abrir a porta. Não sei ainda quando vamos tirar novamente, mas fica a dica para quem vai passar por isso: escândalos matinais não resolvem.

Resumo da ópera

Por mais que a gente se prepare para o momento; que saiba que essa é uma tarefa simples para nós, mas importantíssima e muito difícil para os pequenos; que saiba que temos que ter muita paciência e amor, criando estímulos para que a criança aprenda a controlar seu xixi; que isso funcione como um trampolim para que a criança se torne mais segura e independente... Por mais que a gente saiba de tudo isso, na hora do vamovê a situação é: você trabalhou até tarde, acordou todos os dias da semana com - além das tarefas habituais - cama molhada, lençol, cobertor, travesseiro, pijama, calcinha, meia e criança para lavar, falou a mesma coisa infinitas vezes e a criança parece ter entendido mas é difícil saber o que realmente entende uma criança de 2 anos. Enfim, você está com frio, cansada e estressada antes de tomar o café da manhã.

Então a grande lição é: não superestime seus poderes de mãe - uma cama molhada ainda pode te derrubar!

Ok, agora a lição verdadeira: o aprendizado no ser humano não é linear, e sim espiral. Aprendemos e desaprendemos a todo o instante e isso é muito fácil de perceber nas crianças, pois elas ainda sabem poucas coisas. Portanto tudo tem que ser incansavelmente repetido e sim, temos que agir de forma positiva, pois eles percebem nosso olhar raivoso e tom de cobrança, sensação horrível que acabam carregando para a vida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Enfim nossa!

Hoje, dia 22 de abril de 2013, exatamente 9 meses e dois dias depois de pegarmos a Laura no colo pela primeira vez na vida, podemos encher o peito de orgulho para dizer: ela é nossa!

Tudo começou na quinta-feira passada. Eu havia passado o dia cobrindo evento fora de casa, cheguei exausta, irritada, cheia de trabalhos acumulados. Era 19h quando sentei em frente ao computador e acessei o site do Projudi certa de que mais uma vez entraria lá para ver nada. Mas adoro viver sem expectativas, pois é aí que as boas notícias acontecem: estava lá o documento redigido pela juíza da nossa comarca confirmando o que nosso coração já sabia - Laura é, enfim, nossa filha legítima.

Eu nem consegui terminar de ler o texto e já caí no choro. Nesse momento, nós três ali diante do computador nos amassamos como uma verdadeira família deve fazer. Laura parecia sentir, pois comemorava feliz da vida nos enchendo de beijos - okey, ela comemora qualquer coisa, mas deixa eu acreditar rs.

Fomos hoje ao cartório da Vara da Infância e Juventude para tomar ciência da sentença. Em dez dias teremos a certidão da Laura em mãos. Nos espaços em branco, terá nossos nomes e dos nossos pais como avós de Laura Ribeiro de Souza Fiorio.


Indescritível.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Visita da Dora


No início da semana passada a agenda da escola da Laura veio com um recadinho: "mães, no próximo fim de semana a Laura levará o peixinho para casa". A escola tem essa proposta de que cada fim de semana uma criança leva um peixinho e fica responsável por ele, devolvendo-o na segunda. Só de ouvir falar no assunto já mil argumentos pulam na minha cabeça e o fato é que não, eu não gosto dessa ideia.

Não me entendam mal, eu ADORO peixe. Nós já tivemos 3 peixinhos fofos, sendo que a mais velha, a Kika, ficou conosco por muitos anos, quando morreu eu chorei e fiz luto como acontece com qualquer outro animal de estimação. Eu gosto tanto de peixinhos que não concordo com a ideia de fazer do mesmo um objeto, uma experiência. Aloww, a Laura convive com SEIS animais de estimação! Se é para aprender a respeitar uma vidinha, ter responsabilidades, etc, tudo isso ela aprende x6. Mas ok né? Futuras mamães aí lembrem-se de que a vida tem dessas.

Na sexta-feira, ao buscá-la na escola, veio então o dito cujo - que na verdade é uma dita cuja chamada Dora, uma peixinha beta linda e feliz.



Recebemos a encomenda com aquele nosso mau humor característico. Ainda mais ao constatar que o aquário não tinha tampa e nós temos gatos - um deles bem atentado (corta para a cena de eu dirigindo a 60 km/h na BR e a Cah segurando o aquário que não parava de balançar com a coitada da Dora agitando lá dentro).

Ao chegar em casa, colocamos o pobre ser dentro do armário para passar a noite - isso nos daria tempo para pensar em como cuidar para que ele não fosse devorado nos próximos dois dias. Na mochila dela havia comida, produtos para a água e o Diário do Peixinho. Abri o diário: "Olá! Você está recebendo a visita da Dora! bla bla bla". O texto falava sobre os cuidados e a seguir os pais relatavam a experiência - uma mais incrível e empolgante que a outra (de onde vêm esses pais?). E a gente gostando cada vez mais rs

Respirei fundo e falei: vamos lá, se Laura recebeu essa tarefa, ela vai fazer da melhor forma e pronto. Cah complementou: tira uma foto do peixe, assim se alguém o comer compramos outro igual.

- Vamos dar papá para a Dora filha? Já está na hora do jantar da sua amiguinha! (essa fui eu toda alegria de viver). Abri o pote de ração e...

Derrubei tudo no chão. Bolinhas minúsculas espalhadas pelo quarto, gatos querendo comer tudo, eu sem paciência NE-NHU-MA comecei a resmungar putadavida. Cah riu muito da minha cara.

Corta novamente para a cena de nós ajoelhadas no chão catando bolinhas e colocando no pote. Mas o que para mim começou como uma tarefa super hiper irritante, terminou como sempre termina tudo o que fazemos com a Laura. Ela ajudando a recolher as bolinhas, de repente parou, me deu um baita abraço apertado e falou:

- Mãe, timamu!

Tem como ficar de mau humor??? Hoje, ao devolver a Dora, entreguei também o Diário com um texto bobo-alegre igual ao dos outros pais.

quarta-feira, 27 de março de 2013

O cabelo da nega

Sabendo que a Laura viria para uma família de brancos, para uma região de predominância branca, não nos surpreendeu que ela fosse a única criança negra da escola. Aliás, ela é a única criança negra em vários lugares. E já tive que ouvir muitas vezes, ao fazer essas observações acima, que não devemos vê-la como uma criança NEGRA. Ela é apenas uma criança igual às outras, que perceber isso só faz com que alimentemos o racismo dentro de nós. Oi?

Sempre saio com a sensação de que me chamam de racista pelo simples fato de VER a minha filha como ela é! Ver sua cor, reconhecer sua raça e valorizar a cultura de seus antepassados, tudo isso faz parte de uma luta de séculos pela visibilidade negra. Se eu, caucasiana, opto por ignorar esse "detalhe", estou corroborando para aquela tática estrategicamente cega que predomina o nosso mundinho safado: "racismo não existe mais".

Assim, tratamos de trabalhar muito bem a autoestima da nossa fofolete, enaltecendo todos os atributos pessoais e referentes à raça. Vamos combinar que isso não dá muito trabalho, visto que minha filha é linda de morrer (cof cof).

E um dos alvos principais do racismo cotidiano é, sem dúvida, o cabelo afro. Gente como o povo se incomoda com a revolta dos cachos! O cabelo dela é lindo, cheio de personalidade, super versátil, permite um sem número de penteados, fica bom de qualquer jeito, não tem dia ruim, não tem problema em ficar armado, não precisa lavar todos os dias, etc. São tantas qualidades que não consigo mais ter tolerância com comentários adversos.



Mas eles acontecem, pois não tenho como impedir a proliferação da ignorância do povo. E acontecem tão agressivamente sob sorrisos "amigáveis" que nos deixam, muitas vezes, sem resposta. Parece que eles têm o poder de entalar um caroço na nossa garganta, impedindo-nos de sair em defesa do absurdo para que eles possam seguir suas vidas medíocres balançando seus cabelos lindos.

Um dia saímos à caça de um espaço para fazer a festa de aniversário da Laura e nos apaixonamos por uma chácara. Uma senhora nos atendeu e mostrou todo o lugar, o tempo inteiro sendo simpática com a Laura, pegando na mão, fazendo-lhe gracinhas. Bem, as mães de plantão aqui vão concordar: quando alguém trata bem nossos filhos, baixamos a guarda e guardamos as garras. E foi assim, durante mais de uma hora passeamos pelo local conversando, volta e meia ela fazia umas perguntinhas sobre adoção, tudo na maior paz. Até que.

Na hora de ir embora, ela solta: "Ah essa Laura é muito linda, pena que quando crescer vai sofrer com esse cabelo". A Camila tirou força do útero para tentá-la ajudar a reparar a indelicadeza: "sofrer para pentear?"
Mas ela não entendeu a deixa e lascou o derradeiro: "Pra tudo! Agora ela não liga, mas quando crescer vai ter que alisar né? Ela não vai querer ficar com esse cabelo quando todo mundo tem cabelo liso bonito".

Aquilo doeu tanto que nos deixou sem ação. Só viramos as costas e saímos, Camila falou algo como "Não teremos esse problema, Laura tem um cabelo lindo e nós adoramos". Até hoje minha cabeça formula respostas destruidoras, mas na hora não conseguimos reagir, tão surpreendente foi aquilo.

O triste disso tudo é que esse não foi nem de longe o único comentário sobre o cabelinho enroladinho da minha nega. E mesmo a gente valorizando e torcendo muito para que ela se curta e tenha a autoestima tão firme quanto uma rocha, dia desses a TV exibia uma insuportável propaganda de chapinha.

Quando vi que a Laura estava muito atenta às imagens de "crespa infeliz, lisa feliz", perguntei: "Laura, quem tem o cabelo mais bonito do mundo?" (esse tipo de pergunta sempre gera a resposta "EUUU!!!" seja qual for o elemento). Mas dessa vez ela demorou um instantinho e respondeu:
- A MAMÃE!!

terça-feira, 19 de março de 2013

Dias de guerra

Há tempos enfrentamos dificuldades à mesa. Laura tem um excelente paladar: gosta de tudo, come de tudo. O problema é a quantidade e a disposição para tal, detalhe que nos deixa constantemente de cabelos em pé.

Recentemente fomos ao médico e descobrimos que ela cresceu um pouquinho, porém perdeu peso - um peso que já era abaixo do normal. A pediatra não demonstrou preocupação, pois os exames mostram que ela está com a saúde excelente. Porém, como fazer o coração de duas mães acreditar nisso? São meses e meses de táticas falidas, conselhos infundados, dicas que não dão certo e, no meio disso, ela alterna entre períodos de jejum absoluto e alimentação reduzida. Tem vezes que apenas um pratinho de comida é a quantidade ingerida durante um dia inteiro.

Para mamães que vivem esse desespero, relato aqui as táticas que já usamos e seus resultados:

- Não sai da mesa enquanto não terminar: essa é a tática dos ancestrais, até a Super Nanny usa. Mas ela não conhece a Laura. A mulinha já passou horas na mesa, já emendou uma refeição na outra sem sair, já dormiu na cadeira, já passou mais de quatro horas sentada sem demonstrar cansaço ou interesse em ceder. Sucesso: 1/10. Tática abandonada por falta de tempo e ineficácia.

- Só vai comer isso e nada mais: outra dica comumente ouvida e lida por aí, ainda a usamos volta e meia. Só funciona de tempos em tempos, se fizer isso dois dias seguidos ela fecha a fábrica e não quer nem saber. Sucesso: 3/10. Tática volta e meia aplicada disfarçadamente, mas em sequência não funciona.

- Castigo: horripilante. Além de não funcionar, é uma das piores que já tentamos. A hora de comer vira um inferno, a gente come mal, ela come mal, choradeira por horas... Aff não recomendo. Sucesso: 0/1000. Tática completamente abandonada (mas já foi resgatada em dias de irritação suprema).

- Empurrar a comida goela abaixo: não, não tenho vergonha de dizer que já tentamos isso sim. Mas que é absurdo, isso sem dúvida! Essa tática é a pior de todas e NUNCA funciona nem tem chance de funcionar, visto que ela rejeita a comida justamente porque está sendo tratada com total agressividade. Sucesso: -2/10. Tática completamente abandonada sem chance de voltar.

- Psicologia reversa: um dia em meio aos seus momentos anorexia forever eu dei um nó na cabeça dela: "se você não comer eu vou tirar o prato e não deixo você comer!". Sim, funcionou perfeitamente. Ela se agarrou ao prato e comeu como se não houvesse amanhã. Eu segurei o riso e comemorei internamente. Mas no dia seguinte tentei repetir o sucesso e... tcharan! Ela já estava vacinada. Sucesso: 2/10. Tática abandonada por inconsistência teórica e prática, mas volta e meia dá pra usar.

- Brincando com a comida: a tática mais amada do Brasil, pois não é agressiva, não é deprimente, é politicamente correta e combina com o nosso estilo de educação positiva. Coloquei a comida em panelinhas de brinquedo com talheres e pratinhos de brinquedo. Ela adorou e comeu tudo! Mas tão feliz quanto veio, foi. Na segunda tentativa ela não achou mais graça. Sucesso: 1/10. Tática abandonada pelo trabalho extra que dá e porque na segunda tentativa quase arremessei os brinquedos na parede.

- Criança não morre de fome com um prato na frente: eu tento provar diariamente que essa teoria é uma mentira descabida! Exageros à parte, claro que não se morre de fome assim, mas morrer não é o único infortúnio de não comer direito né minha gente? Quando a criança se contenta com 100 gramas de alimento diário, você tem que fazer com que esses 100 gramas sejam o supra sumo da nutrição. Mas isso é impossível! Então quem acha que não é estressante passa o telefone do terapeuta. Sucesso: 0/0. Tática abandonada por falta de estrutura emocional das mães.

- Comida não é importante: quando adquirimos certo grau de serenidade decidimos encarar essa tática. A regra da casa mudou: comida não era mais importante, imagine só! Na prática, se a Laura não quisesse comer, ok vá praputaqueopariu lá brincar e me deixe almoçar em paz. Não quer? Tem quem queira! Sucesso: 3/10. Tática não completamente abandonada porque funciona mais do que todas as outras, mas invariavelmente ela deixa de comer no almoço pra depois repetir o lanchinho na escola. Isso me deixa tão irritada que não consigo manter o equilíbrio todos os dias.

- Compensação: eu e muitas mães no mundo odeiam essa tática, pois ela ensina errado - o resultado é que comer é apenas um trampolim para ganhar aquilo que ela realmente gosta - enaltecendo o valor da porcaria da sobremesa ou daquele brinquedo inútil que não agrega nada. Mas vá... Como ninguém é de ferro tentamos algumas vezes. Sucesso: 2/10. Tática não-orgulhosamente usada volta e meia, especialmente em público quando queremos evitar estresse.

- Televisão: também não é nada bonito de se dizer, mas como todo mundo fala que comer na frente da TV engorda, lá fui eu mudar a posição da Laura na mesa para que ela pudesse comer vendo seus desenhos favoritos. Um desastre: ela abstrai tanto que esquece até de mastigar o que está na boca, quanto mais de comer o que está no prato. Sucesso: 0/3. Tática abandonada por falta de adesão das partes.

- Criança que não come não vai pra escola: tem coisa mais horrível do que isso? Pois é, a que ponto chegamos. Mas não criamos essa tática à toa, foi mais por que um dia a hora passava e nada de ela encostar no prato, até que se não comesse logo teria que levá-la para a escola sem almoço. Então saiu sem querer: "Laura se você não comer, não vai pra escola hoje!" Pum. Comeu tudinho em minutos. Achei aquilo uma maravilha, mas fiquei envergonhada pela tática desleal. O problema maior foi quando começou a falhar e tive que bancar o prometido. Sucesso: 5/10. Tática nada recomendada. Funciona, mas nem sempre, e a culpa quando não funciona é imensa.

- Ignorando a existência da pessoa: criança sempre faz tudo para ganhar a atenção de todos, com base nisso resolvemos ignorar seus protestos e seguir conversando e comendo calmamente. No início funcionavam bem, ela via que não ia ganhar nossa atenção e então não fazia sentido seguir com a greve de fome. Mas ficou confuso com o tempo, pois o que fazer ao terminarmos? Deixá-la na mesa até comer tudo ou tirá-la mesmo que não tenha tocado no prato? A elaboração dessa dúvida nos levou para outras táticas inevitavelmente. Sucesso: 3/10. Tática abandonada por si só.

- Cobras e lagartos: desde quando viver sob gritos é bom? Num mundo ideal nunca agimos com agressividade contra crianças, bichos, esposas, mães, etc. Mas o cotidiano é desgracento, faz a gente perder as estribeiras e nesse ponto não é difícil fazer uma descendente de italianos dar seus gritos. Já bancamos o general com a Laura na mesa infinitas vezes, mas é desgastante e, sobretudo, contra os nossos princípios - apesar de funcionar. Sucesso: 5/10. Tática exaustivamente abandonada por que não aceitamos viver nem educar no volume máximo.

- Supervalorização: ao invés de criticar sua não-alimentação, naturalmente passamos a vibrar muito a cada boca cheia. A mesa virou um circo e ela usou muito isso para se safar sem comer. Sucesso: 0/10. Tática abandonada porque parece bonitinha, mas simplesmente não funciona.

- Blablabla: não dizem que conversar é o melhor a fazer sempre? Pois é o que fazemos: conversamos, explicamos o motivo pelo qual ela precisa se alimentar, falamos sobre o quanto é importante ela encher a barriguinha, contamos historinhas sobre crianças que comem e crianças que não comem, oferecemos a chance de ela fazer uma escolha, parabenizamos quando faz a coisa certa, tornamos a explicar quando não faz... Sucesso: -/-. Tática usada sempre para tudo, mas sem qualquer sinal de que funciona - apenas seguimos fazendo porque acreditamos que um dia quem sabe.

- Insistir mas não forçar: ninguém para pra pensar no quanto essa tática é contraditória. Se você oferece um alimento e a criança diz não, ao insistir ela falará não novamente, e aí você terá duas escolhas: ou forçar ou deixar pra lá. No caso da Laura, cada negativa dela que aceitamos é um perigo, pois ela passa a dizer mais nãos ainda! E se não podemos forçar, mas também não podemos ceder, como insistir então? Sucesso: 0/10000000. Tática abandonada por sua inviabilidade prática.

- Mão na cintura e contato visual: essa é a tática campeã. Consiste apenas em parar ao seu lado em pé de mão na cintura olhando fixamente para os seus olhos. Eu não sei o que ocorre, mas em minutos ela baixa a cabeça, pega o talher e come. Sucesso: 10/10. Tática ótima, porém abandonada por que Laura chegou ao ponto de só enfiar a porra do garfo na boca depois de travar essa batalha silenciosa TODAS AS VEZES, nos obrigando a passar a refeição inteira parando, levantando, esperando ela comer, tornando a sentar, depois levantando novamente, parando, etc. Aí não né?

Atualmente ela come melhor do que antes, mas ainda gosta de dar trabalho nesse quesito. O fato é que nenhuma tática funciona isoladamente, e nada dura por muito tempo.

Hoje depois de horas de briga para beber meia canequinha de leite, muito choro e frustração de ambas as partes, resolvi que era hora de fazermos as pazes. Depois de conversar muito, abracei minha magrelinha e senti o corpinho dela sacudir num soluço... Ela se agarrou em mim e falou: "Pupa... sim mamãe". Com isso quis dizer que entendeu o que eu falei e pediu desculpas. Quase chorei.

Ah maldita maternidade rs

terça-feira, 5 de março de 2013

Ignorância se resolve com informação

No post anterior prometi que explicaria o motivo da reunião que tivemos com a psicopedagoga da escola da Laura.

Bem. Quando chegamos para deixá-la no segundo dia, logo na recepção nos pediram que aguardássemos, pois a psicopedagoga gostaria de conversar conosco. Certo, vamos deixar a Laura entrar e aguardamos ok? Não, a orientação era para que nós três esperássemos.

Azedei.

Aliás, azedamos. No dia anterior eu havia preenchido o cadastro da Laura, onde questionavam sobre as condições de saúde dela e necessidade de uso de medicação. Eu informei claramente que ela é soropositiva, mas que os remédios não eram administrados durante o período da escola. Não havia dúvidas de que nos chamaram por esse motivo. Caso contrário, por que pediriam para fazer a criança esperar também?

Estávamos convictas de que iriam negar a matrícula da nossa pimpolha. E a ideia de que isso estava prestes a acontecer nos encheu de ódio. Ficamos lá sentadas esperando e cochichando sobre o que faríamos, já planejando processar a escola por discriminação.

Quando a mulher chegou e nos chamou para conversar no reservado, entramos armadas, prontas para a briga. A ppdgoga senta, escolhe palavras e solta a primeira frase:
- Bem mães, eu chamei vocês aqui porque gostaria de falar sobre a situação diferente da Laura...
Fuzilando-a com os olhos perguntamos:
- Qual situação: ela ser filha de duas mães, ser negra, adotiva ou HIV+?
- HIV+.

Silêncio da nossa parte. É ela quem quebra o ar ao meio dizendo:
- Bem. Nunca tivemos um caso desses na escola e temos certeza de que podemos resolver da melhor forma. Apenas as chamei aqui, pois não entendo nada sobre o assunto. Quando li o cadastro da Laura já fui pesquisar na internet sobre o HIV+, sobre os cuidados necessários, etc. Queremos garantir que a Laura não seja privada de nada por conta disso. Então me falem sobre a situação dela, se há complicações, privações, atenção especial...

Ouvimos aquilo com um misto de alívio e estranhamento. Não esperávamos pelo melhor, isso é fato. Explicamos como funcionava viver com HIV no caso da nossa pequena, os cuidados médicos, os remédios, a alimentação, etc. Resumindo, explicamos que ela vive uma vida perfeitamente normal, pois não é doente, apenas é portadora de um vírus que está lá quietinho, indetectável, controlado. A Laura tem gripe, tem febre, dor de barriga como qualquer criança. E também corre, pula, brinca e quer aprender como qualquer criança. Ela já sofreu muito por isso no seu curto início de vida (conto em outro post - olha aí mais uma promessa), e mais do que ninguém merece todo o amor do mundo.

A profissional garantiu que nossa boneca teria o mesmo tratamento das outras crianças, se desculpou por sua ignorância no assunto e, assim, nos colocamos à disposição para esclarecer qualquer dúvida que surgisse. Ao final, aprendemos 3 coisas:
1. Quando a ignorância não vem travestida de preconceitos e moralismos, a informação é o melhor remédio.
2. Não devemos esperar sempre o pior, às vezes as pessoas podem surpreender.
3. Somos definitivamente mães leoas rs

Parece final feliz de livrinho infantil, mas foi bem assim que aconteceu mesmo. A escola não é perfeita, mas essa naturalidade com que recebe uma criança filha de casal homoafetivo, essa atitude transparente ao abordar o HIV+, um assunto tabu em nossa sociedade até hoje, tudo isso conta pontos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A escola

Laura está frequentando a escola desde outubro do ano passado. No início, morríamos de dó, pensávamos que ela se sentiria novamente abrigada ao se ver cercada de crianças sem as mães. O período de adaptação foi de uma semana, na qual ela aumentaria uma hora de permanência na escola até completar o período todo no último dia. Depois disso, a psicopedagoga faria um relatório sobre como foi o processo, como a Laura reagiu, quanto tempo levou para se adaptar com os colegas, com as atividades propostas, etc.

Ok, isso foi a teoria. A prática foi mais ou menos assim:

1º dia: Laura chegou curiosa e queria entrar na salinha dela, mas estava tímida. Fiquei preenchendo uns formulários enquanto a Cah foi levada por ela até lá. Quando chegou, a Cah conversou rapidinho (já havíamos passado mais de um mês preparando-a para esse dia) e a prof fechou a porta. Foi contar até 3 para ouvir o berreiro. Na volta, ganhou um sorvete gigante para aplacar nosso sentimento de culpa rs

2º dia: chegamos e ela ficou meio chorosa, não quis ir até a sala. Para que se adaptasse ao ritmo da escola, não a levamos até a porta novamente, deixamos isso a cargo da Tia, mas ouvimos a choradeira assim que viramos as costas. Na volta, fui até a sala espiar e a vi sentadinha entre os colegas toda animada. Ela demorou para me ouvir, mas quando ouviu, veio com carinha de choro correndo para o meu colo. Já nesse dia, depois de longa reunião com a psicopedagoga (o motivo disso eu conto no próximo post), ouvimos de todos que ela estava se adaptando melhor do que a encomenda, que o chorinho não passou de alguns minutos e que ela mostrava interesse em participar de tudo o que era proposto. Saímos infladas de orgulho.

3º dia: nem chorou, nem sofreu. Laura ficou o dia todo e ainda saiu de lá com um desenho que ela mesma pintou. Na volta para casa não parou de falar toda empolgada, e das tias só ouvimos elogios.

4º dia: ela já sabia o caminho e quando chegou, foi direto para o corredor toda solta. A prof informou que já poderíamos deixá-la o turno inteiro se assim preferíssemos, pois ela já estava curtindo todas as atividades e não chorava mais.

5º dia: pouco antes de sairmos de casa senti que ela parecia um pouco quente. Resolvemos medir a temperatura e quase caímos dura: estava com 38º de febre! Era a primeira vez que ficava doente. Ficamos tão nervosas que corri para a farmácia para comprar um remédio que já tínhamos em casa. Quando voltei, medimos novamente e estava em 39º, ela estava queimando, toda molenga, não reagia a nada.

Era sexta-feira, passamos a noite inteira de vigília com paninhos úmidos na testa. A febre baixava com o efeito do remédio, mas tornava a subir horas depois. Foi assim por dois dias, mas no dia seguinte ela já estava animada querendo brincar.

Laura tem uma disposição imensa com tudo o que a vida oferece, mas o medo é real e se apresenta nas mais diferentes formas toda vez que ela enfrenta algo novo.

Nossa pequena quer sair do casulo, mas o tempo parece exigir muito mais do que ela está preparada a dar no momento. Ao mesmo tempo, para romper com o mundo velho, temos que encarar os desafios hora ou outra não é? E como sabemos que isso dói, nos sentimos minúsculas. Afinal, só o que podemos fazer é estar lá depois para dar um beijinho e fazer os curativos.

Enfim, a febre passou e a nova vida começou mais uma vez. Agora Laura tem loucura pela escola, fica até difícil segurá-la nos finais de semana e feriados, pois se pudesse ela iria todos os dias.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

De volta!

Depois de meses longe daqui comecei a sentir saudade. Cheguei a pensar em dar cabo desse blog, uma vez que o pote de ouro já foi encontrado... Ficou meio sem sentido continuar.

Mas essa fase passou.

Como também passou a fase da adaptação aqui em casa. Agora aceito que sou mãe e gosto muito disso! Já virei clichezona, falo da Laura o tempo todo para qualquer pessoa. Se alguém der oi no elevador, já largo "Ah você nem imagina como é o oi da minha filha! É o oi mais lindo que já vi, quer ver? (fotos e mais fotos)".

Parte da minha crise com o blog teve a ver com a exposição. Chega uma hora que a proposta do blog confunde um pouco. Afinal, estamos aqui para quê? Será que a Laura vai gostar de saber de tudo isso quando crescer? Será que está certo expor tudo o que ela diz e faz na rede? Bem, nada precisa ser tão 8 nem tão 80. Vamos continuar contando nossa trajetória sim, fizemos grandes e verdadeiros amigos através da blogosfera e, assim como gosto de encontrar apoio, diversão, conhecimento ou papo furado na rede, também posso proporcionar!

Não vou mais ser linear na história toda. Ao todo, Laura vive conosco há 7 meses. Mas a sensação é de que nasceu aqui, da nossa barriga (isso explicaria os quilinhos a mais). Laura agora vai à escola, tem amiguinhos e amiguinhas, faz capoeira, canta, dança, aprendeu a pular, tirou as fraldas, fala O DIA INTEIRO e é muito, mas muuuuuuuito amorosa.

Dia desses estava com ela no quarto, quando cheguei bem pertinho e ela olhou fundo nos meus olhos por um segundo. Aí soltou um: "Oiiii Lala!!!" Minha filha descobriu que pode se ver nos meus olhos.

:) beijos aos meus amigos e amigas!